sábado, 1 de outubro de 2011

A Saga do Visto

Três dias antes do temido dia do visto fiquei doente. E não foi qualquer tipo de doença não. Eu fiquei com febre, com tosse, vomitei uma vez bem pouco, e, por último, mas não menos importante, fiquei rouca. Dois dias antes, eu estava totalmente sem voz, mas isso não me impediu de tentar conversar  

Remédios em gota, comprimidos, de pingar no nariz; spray com própolis e guaco; balas com mel, própolis, gengibre e jiló; Vick®; receita da vó, e, finalmente, eu estava com uma voz roucamente sexy. Então comecei minha breve luta em prol da recuperação da minha voz.

Eu estava certa de que iria ficar perdida em São Paulo sozinha e sem muita voz, quando meu primo chegou na casa da minha tia e não me deixou ir sozinha para São Paulo. Fiquei tão feliz e meio desconfortável por saber que ele tinha viajado por 7 horas e de moto e deveria estar exausto, mas ele é família 

Chegamos na rodoviária às 21 horas já sabendo que ali ficaríamos até às 4 horas da manhã. Tentamos encontrar posições confortáveis para dormir nas cadeiras. Sem sucesso. Tentamos encontrar lugares confortáveis para dormir no chão e evitar o vento que estava nos atingindo e a minha garganta menos rouca. Sem sucesso. Voltamos ao banco duro e gelado, e quando estávamos quase conseguindo dormir, um senhor quase-idoso vomita na nossa frente.

"Eu pensei que alguém estava derramando água no chão" - disse meu primo, depois de ter sido acordado pelo som do senhor-vomitinho.

Um homem que trabalha na rodoviária pediu para todos saírem daqueles bancos e irem para um outro lugar com bancos, porque eles iriam lavar aquela área. Chegamos no outro lugar, e eu vi aqueles lindos bancos com lugares para colocar a cabeça. Quase chorei de emoção.

Naquela noite, dormi 1 hora e 30 minutos  "Acordei" às 3h30 para ir ao banheiro, que tive que pagar para usar, escovei os dentes, me maquiei, arrumei meu cabelo e estava linda e radiante  para meu tão temido dia do visto.

Pegamos o primeiro trem às 4h30 na Barra Funda, sentido Osasco. Descemos na Pres. Altino. Pegamos outro trem sentido Grajaú e descemos na Morumbi. Tomamos café-da-manhã na rua, como típicos trabalhadores paulistanos, andamos algumas quadras e chegamos ao consulado americano. Não eram 6h da manhã e mais de 10 pessoas já estavam aguardando na fila.

Estava começando a ficar desesperada, com medo de esquecer o inglês, com medo da minha voz acabar, quando eu vejo uma mulher que trabalha cuidando do estacionamento em frente ao consulado. Ela chega lá todos os dias às 4 horas da manhã e está sempre animada, falando alto, rindo, animando algumas pessoas ansiosas pelo visto. O bordão dela é "Ipod não pode. Tem que deixar no carro."

Começou a garoar. Parou. E finalmente eu entrei lá antes de 7h30.


 Se você está em um ônibus, metrô ou trem, e quer espaço, aqui vai uma dica: vomite. Te garanto que nenhuma pessoa ficará do seu lado.


Nenhum comentário:

Postar um comentário